Situação de dificuldades

As empresas têm um ciclo de vida próprio cuja duração não está definida à partida. As dificuldades, apesar de indesejadas, são um estádio pelo qual acabam por passar muitas empresas. As dificuldades podem ter características temporárias ou ser o resultado de um longo período de “doença” da empresa.
As dificuldades das empresas podem ser classificadas em dificuldades económicas e/ ou dificuldades financeiras. As dificuldades económicas estão associadas à viabilidade do negócio enquanto as dificuldades financeiras poderão ocorrer por via de situações imprevistas. De salientar que as dificuldades económicas levarão mais tarde ou mais cedo ao surgimento de dificuldades financeiras, sendo assim uma das suas causas possíveis.
A solução para as empresas com dificuldades económicas apenas pode decorrer de alterações no modelo de negócio da empresa (ex: alteração do tipo de produtos que a empresa vende atualmente ou dos mercados a que se dirige). A viabilização de uma empresa com dificuldades económica é normalmente muito difícil.
As empresas com dificuldades financeiras podem ser empresas com ou sem viabilidade económica. As empresas com viabilidade económica são empresas que estão a passar por dificuldades esporádicas e que por fatores anormais estão com dificuldades na tesouraria.
Alguns exemplos de causas para as dificuldades económicas são:
  • o aparecimento de um novo produto substituto com grande aceitação no mercado,
  • o desaparecimento inesperado de uma parte importante dos clientes (ex: encerramento de uma fábrica junto a um restaurante), e
  • a chegada de um novo concorrente que altere radicalmente a oferta no mercado (ex: entrada de uma multinacional no mercado).
Alguns exemplos de causas que provocam dificuldades financeiras são:
  • avaria num equipamento de elevado valor que exija uma reparação com um custo avultado,
  • atraso no recebimento de uma fatura de um cliente importante, e
  • baixa procura (clientes) num determinado mês em negócios caracterizados por elevada sazonalidade (ex: período acumulado de mau tempo num negócio de restaurante de praia).
As dificuldades da empresa começam a ser mais notórias quando a tesouraria da empresa começa a estrangular. Quando a situação financeira da empresa se deteriora, importa diagnosticar todas as suas causas. Caso a empresa esteja a perspetivar dificuldades acrescidas nos meses que se avizinham, deve tentar desde logo encontrar soluções alternativas que permitam não chegar uma situação de incumprimento.
Nestas situações a empresa deverá rever o seu plano de negócios, adiar/ cortar investimentos não prioritários, procurar reduzir custos, negociar o alargamento do prazo de pagamento a fornecedores, entre outras medidas. Existem medidas de gestão que devem ser tomadas numa fase ainda inicial das dificuldades da empresa. Entre as medidas possíveis de tomar, destacam-se (maioria das medidas sugeridas devem ser tomadas não só por empresas em dificuldades – trata-se de boas práticas de gestão):
  • cortar custos supérfluos (ex: reduzir despesas de representação e despesas com automóveis);
  • transformar custos fixos em custos variáveis (ex: subcontratar atividades não críticas para a empresa);
  • racionalizar recursos (ex: procurar instalações com custos mensais mais baixos);
  • renegociar contratos com fornecedores (ex: listar os principais fornecedores da empresa e procurar renegociar custo da prestação de serviços e prazos de pagamento);
  • avaliar criação de valor dos clientes mais importantes da empresa e ponderar a rejeição de clientes que estejam a destruir valor para a empresa (ex: efetuar o levantamento do valor gerado por cada cliente quando comparado com os encargos que o mesmo exige da empresa);
  • pôr fim a atividades não críticas e onerosas para a empresa (ex: reduzir os encargos com tarefas e atividades que não criem valor para a empresa, sejam elas realizadas por empresas externas ou por trabalhadores internos – neste caso os trabalhadores podem ser utilizados para realizar outras tarefas de maior relevância);
  • focar no negócio principal da organização, reavaliando a relevância de outros negócios em que a empresa esteja envolvida;
  • renegociação com os bancos (ex: procurar transformar os empréstimos de curto prazo em empréstimos de médio e longo prazo – a opção de tentar negociar a carência de reembolso da dívida deve ser devidamente ponderada com os encargos financeiros que resultem da mesma).
Toda a empresa deve estar consciente das dificuldades. Importa notar que o adiamento do problema, na maioria dos casos, levará ao avolumar dos problemas da empresa. As decisões tomadas no dia-a-dia devem ter em consideração a situação da empresa (ex: redução de investimentos em novos negócios com retorno esperado longínquo).
A situação de dificuldade pode prever-se na grande maioria dos casos, pelos indicadores do negócio. A deterioração de alguns indicadores pode ajudar a prever as dificuldades da empresa num futuro próximo. Exemplo de alertas a ter em conta:
  • vendas muito concentradas em um ou dois clientes;
  • elevada rotação de clientes;
  • dívidas a fornecedores a crescer acima das vendas nos últimos anos;
  • dívidas de clientes com mais de 90 dias a crescer;
  • forte aumento do endividamento bancário nos últimos anos;
  • elevado endividamento de curto prazo.
Por último, importa salientar que a época de crise económica é um período propício a oportunidades e ameaças. Por um lado, um período de crise pode ser uma oportunidade para uma empresa se diferenciar da concorrência e para oferecer novos produtos ou serviços ao mercado. Por outro lado, um ciclo de crise provoca normalmente reduções na procura e maiores restrições na obtenção de financiamento. As dificuldades que surgem durante um período crise são tradicionalmente associadas a meras dificuldades financeiras, contudo, nalguns casos tratar-se-á de inviabilidade económica do negócio da empresa. Em caso de inviabilidade económica o arrastamento no tempo levará ao avolumar dos problemas.
A relação da sua empresa com o(s) seu(s) Banco(s) deve ser o mais transparente possível, de forma a que o próprio Banco possa apoiar e ajudar a encontrar soluções que evitem o estado de incumprimento/ vias de incumprimento.
A empresa que falte ao cumprimento das suas obrigações e que revele incapacidade de satisfazer as suas obrigações futuras tem a obrigação de requerer a declaração de insolvência ou, se economicamente viável, procedimento extrajudicial de conciliação (PEC). Os credores também podem requerer a declaração de falência da empresa devedora. O pedido de insolvência por parte dos credores pode ter origem em diversos motivos, como por exemplo:
  • suspensão generalizada do pagamento de obrigações vencidas;
  • fuga ou abandono da empresa, relacionada com a falta de solvabilidade desta, pelos titulares ou pelos órgãos de gestão, sem designação de substituto idóneo;
  • dissipação, liquidação apressada ou ruinosa de bens e constituição fictícia de créditos;
  • incumprimento generalizado, nos últimos seis meses, de dívidas tributárias, de contribuições para a segurança social, de dívidas emergentes de contratos de trabalho e de rendas ou prestações de empréstimos garantidos por hipoteca sobre o local onde a empresa realize a sua atividade económica;
  • em caso de processo executivo intentado contra a empresa, existir insuficiência de bens penhoráveis para garantir o crédito do exequente.